ONU manifesta “profunda preocupação” com operação policial no Rio de Janeiro que deixou mais de 120 mortos

 ONU manifesta “profunda preocupação” com operação policial no Rio de Janeiro que deixou mais de 120 mortos
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O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU), sediado em Genebra, divulgou nesta sexta-feira (31) uma nota oficial expressando “profunda preocupação” com a Operação Contenção, ação policial que resultou em mais de 120 mortes — incluindo quatro policiais — nas comunidades do Complexo do Alemão e do Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro. A informação é da Agência Brasil.

Na manifestação, os especialistas da ONU pedem que o governo brasileiro realize uma investigação independente, rápida e eficaz, com o objetivo de garantir a responsabilização pelos fatos, interromper violações de direitos humanos e assegurar proteção às testemunhas, familiares das vítimas e defensores de direitos humanos.

“Estamos particularmente preocupados com as represálias contra as famílias e testemunhas. As autoridades devem garantir sua vida, segurança e integridade pessoal, e impedir qualquer forma de intimidação, assédio ou criminalização”, destacam os especialistas.

O comunicado também reforça que as autoridades devem preservar os locais dos confrontos para exames forenses e elenca uma série de medidas urgentes a serem adotadas pelo Estado brasileiro, entre elas:

  • Suspender operações com uso desproporcional da força, evitando novas mortes de civis;

  • Garantir proteção a testemunhas, familiares e defensores de direitos humanos contra retaliações e prisões arbitrárias;

  • Preservar provas e a cadeia de custódia em casos de homicídio;

  • Realizar investigações periciais independentes, conforme padrões internacionais;

  • Cumprir normas globais sobre o uso da força e punir adequadamente casos de abuso policial.

De acordo com a ONU, a operação — deflagrada em 28 de outubro de 2025 — atingiu comunidades majoritariamente negras e de baixa renda. O órgão relatou ter recebido denúncias de execuções, invasões domiciliares sem mandado judicial, prisões arbitrárias e disparos realizados por helicópteros e drones.

“A escala da violência, a natureza dos assassinatos relatados e as consequências para as comunidades pobres afrodescendentes expõem um padrão profundamente arraigado de policiamento racializado”, afirma a nota.

O documento também faz referência à ADPF das Favelas, ação em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF) que estabelece medidas para conter a letalidade policial no Rio de Janeiro.

A ONU ressaltou que episódios de violência policial no Brasil já haviam sido alvo de alertas de organismos internacionais de direitos humanos, destacando que o país precisa rever sua política de segurança pública, que ainda perpetua “um modelo de violência policial brutal e racializada”.

“As autoridades brasileiras devem romper com o legado de impunidade que caracterizou eventos semelhantes no passado”, alertam os relatores.

Em um relatório divulgado em 2024, o grupo de especialistas da ONU apontou que a política de segurança pública no Brasil é marcada por repressão, violência e ‘hipermasculinidade’, destacando que mais de seis mil pessoas morrem por ano em ações policiais, em sua maioria negras e moradoras de periferias.

O Conselho informou ainda que suas preocupações foram formalmente encaminhadas ao governo brasileiro por meio de uma carta pública, solicitando informações sobre as medidas adotadas para garantir responsabilização, reparação e justiça às vítimas e seus familiares.

Por Paraíba Master

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