Morre Jean-Claude Bernardet, intelectual central do cinema brasileiro, aos 88 anos

Jean-Claude Bernardet, um dos nomes mais importantes do pensamento cinematográfico brasileiro, faleceu na manhã deste sábado, 12 de julho, aos 88 anos. O velório será realizado na Cinemateca Brasileira, em São Paulo.
Figura multifacetada e referência incontornável na história do audiovisual nacional, Bernardet teve uma trajetória marcante como ensaísta, professor, roteirista e ator. De acordo com o ItaúCultural, mesmo afastado das atividades públicas nos últimos anos por questões de saúde, permaneceu envolvido em projetos culturais, escrevendo, atuando e participando de debates sobre cinema.
Embora a causa oficial da morte não tenha sido divulgada, Jean-Claude enfrentava diversos problemas de saúde. Vivendo com HIV há décadas, ele também lidava com um câncer de próstata reincidente e uma degeneração ocular, optando por não se submeter a tratamentos agressivos como a quimioterapia.
Intelectual engajado e inovador
Nascido em 1936 em Charleroi, na Bélgica, Jean-Claude Bernardet chegou ao Brasil em 1949 e se naturalizou brasileiro. Em São Paulo, iniciou sua trajetória intelectual, integrando o movimento cineclubista e escrevendo críticas para o Suplemento Literário do Estadão, sob a orientação de Paulo Emílio Salles Gomes, outro grande nome da crítica cinematográfica brasileira.
Sua primeira grande contribuição teórica veio com o livro Brasil em tempo de cinema (1967), no qual analisava o Cinema Novo sob uma ótica crítica e inovadora. Ao longo da carreira, publicou cerca de 25 obras entre ensaios e ficções, incluindo títulos como Cineastas e imagens do povo, O que é cinema e Autoficções.
Bernardet também trabalhou como roteirista e ator, colaborando com cineastas como Joaquim Pedro de Andrade, Carlos Reichenbach, Andrea Tonacci e Adirley Queirós. Um de seus papéis mais marcantes foi no filme FilmeFobia (2008), de Kiko Goifman, no qual ele desconstrói sua própria imagem de intelectual, em um gesto provocador que dialogava com as novas gerações do cinema independente brasileiro.
Legado na educação e na cultura
Professor na Universidade de Brasília (UnB) e, mais tarde, na Universidade de São Paulo (USP), onde se aposentou em 2004, Bernardet teve papel fundamental na formação de gerações de críticos e cineastas. Sua obra teórica é marcada pela abertura à experimentação, pela autocrítica e pelo desejo constante de repensar o cinema a partir das transformações da sociedade brasileira.
Com mais de seis décadas de envolvimento com o audiovisual, Jean-Claude Bernardet deixa um legado profundo, que atravessa diferentes funções, linguagens e momentos do cinema nacional. Sua atuação ajudou a moldar o pensamento crítico no Brasil e continuará influenciando estudiosos, artistas e espectadores por muitos anos.
Por Paraíba Master