Belém sediará a COP30 e recoloca o Brasil no centro das negociações climáticas globais

No próximo dia 10 de novembro, representantes de quase 200 países voltam a se reunir para discutir um dos maiores desafios da humanidade: a crise climática. A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) será realizada em Belém (PA), marcando o retorno do evento ao Brasil — o mesmo país onde, há mais de três décadas, nasceu o primeiro grande tratado internacional sobre o tema.
A conferência acontece em um momento de urgência climática e de instabilidade no cenário geopolítico, com conflitos e disputas que colocam à prova o multilateralismo global. Em setembro, durante a Assembleia Geral da ONU, o secretário-geral António Guterres ressaltou a importância da cooperação internacional, afirmando que “neste momento de crise, as Nações Unidas nunca foram tão essenciais”.
De onde tudo começou
A história da governança climática mundial iniciou-se em 1992, no Rio de Janeiro, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a famosa Eco-92. Naquele encontro, foi lançada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), tratado que estabeleceu as bases da cooperação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para conter o avanço das emissões de gases de efeito estufa.
O alerta sobre as mudanças no regime climático, no entanto, veio antes. Em 1988, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) criaram o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), que passou a reunir e analisar evidências científicas sobre o aquecimento global.
O primeiro relatório do IPCC, divulgado em 1990, serviu de base para a criação do Comitê Intergovernamental de Negociação (INC), responsável por elaborar os compromissos e metas iniciais da convenção climática.
O início das COPs
Com a adesão de 196 países, a Convenção do Clima entrou em vigor em 1994 e determinou a realização de encontros anuais — as chamadas Conferências das Partes (COPs) — para avaliar os avanços, revisar políticas e atualizar compromissos.
A primeira COP ocorreu em 1995, em Berlim, na Alemanha, e resultou no Mandato de Berlim, que abriu caminho para negociações mais ambiciosas. Desde então, as reuniões anuais têm aperfeiçoado o acordo inicial, criando novos instrumentos financeiros e metas diferenciadas entre os países, conforme suas responsabilidades e capacidades.
Entre os principais marcos alcançados ao longo das COPs estão:
Protocolo de Quioto (1997) – primeiro tratado com metas obrigatórias de redução de emissões;
Acordo de Paris (2015) – pacto global para limitar o aquecimento a 1,5°C;
Livro de Regras do Acordo de Paris e o Mercado de Carbono (2021) – detalhamento das regras de aplicação do acordo;
Balanço Global (2023) – avaliação do progresso coletivo desde o Acordo de Paris.
Linha do tempo das Conferências do Clima
1995 – Berlim, Alemanha: Mandato de Berlim
1996 – Genebra, Suíça
1997 – Quioto, Japão: Protocolo de Quioto
1998 – Buenos Aires, Argentina
1999 – Bonn, Alemanha
2000 – Haia, Holanda: Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
2001 – Marraquexe, Marrocos: Acordos de Marraquexe
2002 – Deli, Índia
2003 – Milão, Itália: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
2004 – Buenos Aires, Argentina: Inventário Nacional de Emissões
2005 – Montreal, Canadá
2006 – Nairóbi, Quênia
2007 – Bali, Indonésia
2008 – Poznań, Polônia
2009 – Copenhague, Dinamarca: Acordo de Copenhague
2010 – Cancún, México
2011 – Durban, África do Sul: Fundo Verde para o Clima
2012 – Doha, Catar: Emenda de Doha
2013 – Varsóvia, Polônia
2014 – Lima, Peru
2015 – Paris, França: Acordo de Paris
2016 – Marraquexe, Marrocos
2017 – Bonn, Alemanha: Powering Past Coal Alliance e Plano de Ação de Gênero
2018 – Katowice, Polônia
2019 – Madri, Espanha
2021 – Glasgow, Escócia: Livro de Regras do Acordo de Paris e Mercado de Carbono
2022 – Sharm El Sheikh, Egito
2023 – Dubai, Emirados Árabes Unidos: Balanço Global
2024 – Baku, Azerbaijão
2025 – Belém, Brasil
Belém e o papel simbólico da Amazônia
Sediar a COP30 em Belém coloca a Amazônia no centro das discussões sobre o futuro climático do planeta. O evento é visto como uma oportunidade para reforçar a importância dos biomas tropicais, da transição energética justa e das políticas de preservação ambiental como pilares de um novo modelo de desenvolvimento sustentável.
Três décadas após a Eco-92, o Brasil volta a ser palco das negociações globais que buscam conter o aquecimento da Terra — agora, com a urgência de transformar compromissos em ação concreta.
Por Paraíba Master