Harvard concede Medalha W.E.B. Du Bois a Marielle Franco por legado na luta por direitos humanos

A Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, anunciou que concederá a Medalha W.E.B. Du Bois de 2025 à ativista e vereadora brasileira Marielle Franco, assassinada em março de 2018, no Rio de Janeiro. A cerimônia está marcada para esta terça-feira (4), segundo informações da Agência Brasil.
Marielle será a primeira brasileira e apenas a segunda latino-americana a receber a mais alta distinção concedida por Harvard no campo dos Estudos Africanos e Afro-Americanos. Em 2024, o reconhecimento foi atribuído à vice-presidente da Colômbia, Francia Márquez.
A medalha homenageia pessoas e trajetórias que fortalecem o legado intelectual, político e cultural das populações africanas e afrodescendentes no mundo. Entre os demais premiados deste ano estão James E. Clyburn, Misty Copeland, Brittney Griner, George E. Johnson, Spike Lee e Amy Sherald.
O prêmio leva o nome do sociólogo e ativista norte-americano W.E.B. Du Bois, considerado um dos principais líderes do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos no início do século XX. Sua obra “As Almas da Gente Negra” (1903) é um marco da literatura afro-americana.
Legado e militância
Nascida e criada no Complexo da Maré, Marielle Franco foi uma das vozes mais potentes na luta contra a violência de Estado e em defesa dos direitos humanos no Brasil. Eleita vereadora do Rio de Janeiro em 2016, presidiu a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Câmara Municipal. Sua atuação destacou pautas voltadas às mulheres negras, populações LGBTQIA+ e moradores de periferias.
Em 2018, Marielle havia sido convidada pelo Instituto de Pesquisas Afrolatino-Americanas de Harvard (ALARI) para participar de um simpósio. Seis semanas antes do evento, e um dia após denunciar abusos policiais em sua comunidade, foi assassinada junto ao motorista Anderson Gomes.
“Foi porque mulheres como ela desafiaram e transformaram as estruturas de poder, enfrentando o racismo, o sexismo e a LGBTQIA+fobia, que sua preciosa vida foi tirada. Mas seus assassinos fracassaram. Marielle esteve conosco no ALARI, e nunca mais saiu daqui”, afirmou Alejandro de la Fuente, diretor fundador do instituto.
“Nosso campo, o dos Estudos Afrolatino-Americanos, é alimentado pelas lutas por justiça e inclusão, nutrido por mulheres como Marielle. Isso não se pode matar. Marielle Franco é vida. E a vida não se mata”, completou.
Investigações e condenações
Em outubro de 2024, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram condenados pelo assassinato de Marielle e Anderson. Lessa recebeu pena de 78 anos e 9 meses, enquanto Élcio foi condenado a 59 anos e 8 meses de prisão.
As investigações apontaram que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão teriam encomendado o crime, com planejamento do então chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, que também é acusado de atrapalhar as investigações.
Os três — Domingos, Chiquinho e Rivaldo — respondem a uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes. O processo segue em fase de instrução, ainda sem data para julgamento.
Por Paraíba Master