Ensino superior no Brasil amplia salários, mas evasão no 1º ano preocupa, aponta OCDE

Um diploma de ensino superior no Brasil pode mais que dobrar a renda de um trabalhador, mas continua longe de ser realidade para a maioria da população. A conclusão é do relatório Education at a Glance 2025, publicado nesta semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), com foco no ensino superior.
Segundo o levantamento, brasileiros com idade entre 25 e 64 anos que completaram a graduação recebem, em média, 148% a mais do que aqueles com apenas o ensino médio — índice bem acima da média dos países da OCDE, que é de 54%. No ranking de retorno salarial, o Brasil fica atrás apenas da Colômbia (150%) e da África do Sul (251%).
Baixa conclusão e evasão no início do curso
Apesar do alto retorno financeiro, o acesso e a permanência no ensino superior ainda são grandes desafios. Apenas 20,5% da população brasileira com 25 anos ou mais possui diploma universitário, conforme dados do IBGE de 2024. Entre os jovens de 25 a 34 anos, a taxa de conclusão da graduação é de apenas 24%, menos da metade da média da OCDE, que é de 49%.
Um dos pontos mais críticos revelados pelo relatório é a evasão precoce: um em cada quatro estudantes (25%) abandona o curso ainda no primeiro ano de bacharelado. A taxa brasileira é quase o dobro da média da OCDE, de 13%. Mesmo considerando três anos após o prazo regular para conclusão, apenas 49% dos estudantes conseguem finalizar a graduação no país — nos países da OCDE, a média é de 70%.
Para a OCDE, esse abandono precoce pode refletir a falta de orientação profissional, expectativas desalinhadas ou apoio acadêmico insuficiente.
Jovens fora da escola e do mercado de trabalho
Outro dado que chama atenção é o alto número de jovens que não estudam nem trabalham. Em 2024, cerca de 24% dos brasileiros entre 18 e 24 anos estão nessa condição, classificados como “NEET” (Not in Education, Employment or Training). A taxa brasileira supera com folga a média da OCDE, que é de 14%.
A desigualdade de gênero também é evidente: 29% das mulheres jovens estão fora da escola e do mercado de trabalho, contra 19% dos homens. Em contraste, nos países da OCDE, essas diferenças tendem a ser menores.
Mulheres concluem mais que homens
Em termos de permanência e conclusão, as mulheres brasileiras têm desempenho superior ao dos homens no ensino superior. Segundo o relatório, 53% das mulheres que iniciam o bacharelado concluem o curso, contra 43% dos homens. A diferença de 9 pontos percentuais está abaixo da média da OCDE, que é de 12.
Investimento ainda é baixo, mas proporcional ao PIB
Apesar do impacto positivo do ensino superior, o investimento público por aluno no Brasil ainda está distante dos padrões internacionais. Em 2022, o governo brasileiro gastou cerca de US$ 3.765 por estudante (aproximadamente R$ 20 mil), enquanto a média da OCDE é de US$ 15.102 (cerca de R$ 80 mil).
No entanto, quando os investimentos são comparados com o Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil se alinha à média da organização: 0,9% do PIB é destinado ao ensino superior, incluindo pesquisa e inovação.
Mobilidade internacional estagnada
Enquanto muitos países avançam na atração de estudantes internacionais, o Brasil permanece praticamente estagnado. De 2018 a 2023, a proporção de estrangeiros no ensino superior nos países da OCDE subiu de 6% para 7,4%. No Brasil, a taxa continua em apenas 0,2%.
Qualidade da formação também preocupa
O relatório destaca que, mesmo entre os que completam o ensino superior, a qualidade da educação é uma preocupação. Dados da Pesquisa de Competências de Adultos de 2023, também da OCDE, revelam que 13% dos graduados nos países analisados não conseguem interpretar textos complexos — sinal de que a formação acadêmica nem sempre garante o desenvolvimento de habilidades fundamentais.
Desafios e recomendações
O secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, alerta que as baixas taxas de conclusão prejudicam o retorno sobre os investimentos públicos e limitam o desenvolvimento de competências no mercado de trabalho. Para enfrentar o problema, ele defende:
Fortalecer a orientação vocacional no ensino médio;
Criar programas de graduação mais claros e estruturados;
Oferecer apoio acadêmico direcionado aos estudantes em risco de evasão;
Promover opções de ensino superior mais inclusivas e flexíveis.
Além disso, a organização sugere o reconhecimento de diferentes perfis de estudantes no processo seletivo e a oferta de cursos mais curtos e especializados como alternativas à graduação tradicional.
Por Paraíba Master