Desequilíbrio na família Bolsonaro e desonra de Eduardo com o pai afastam evangélicos e fortalecem políticos da direita tradicional. Entenda

 Desequilíbrio na família Bolsonaro e desonra de Eduardo com o pai afastam evangélicos e fortalecem políticos da direita tradicional. Entenda
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O indiciamento de Jair Bolsonaro e a divulgação de mensagens trocadas entre ele e o filho Eduardo foram interpretados por integrantes do centrão e de partidos de direita como uma oportunidade para reforçar a pressão por unidade em torno de uma eventual candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), incluindo a definição do vice na chapa. Há tempos, os principais partidos de centro e direita defendem a consolidação do governador de São Paulo como opção para enfrentar Lula (PT) em 2026, mas a indefinição de Bolsonaro — inelegível e prestes a sofrer uma condenação no caso da trama golpista — ainda complica o cenário.

Mais do que o indiciamento por suposta tentativa de obstrução, as mensagens trocadas entre pai e filho revelam divergências sobre a atuação política da família e demonstram forte desconfiança de Eduardo em relação a Tarcísio, provocando repercussões entre políticos de centro e direita nesta quinta-feira (21).

Apesar de indicar um terreno complicado para Tarcísio dentro da família Bolsonaro, especialistas avaliam que a exposição das brigas prejudica principalmente Eduardo, apontado como o nome mais radical do clã. Para dirigentes partidários, o episódio enfraquece ainda mais o deputado e cria uma abertura para que o governador conquiste certa autonomia em relação à família, sem perder o apoio do ex-presidente — fundamental para qualquer candidato do campo bolsonarista que queira ser competitivo em 2026.

As mensagens mostram Eduardo expressando diversas vezes contrariedade e desconfiança em relação a Tarcísio. Em uma delas, ele ressalta que o governador de São Paulo “nunca ajudou o pai no STF” e teria “sempre estado de braço cruzado vendo você se foder e se aquecendo para 2026”.

Uma ala do centrão enxerga ganhos para Tarcísio justamente na demonstração de desorganização dentro da família Bolsonaro, reforçando a necessidade de um presidenciável alinhado ao bolsonarismo, mas que não carregue todo o desgaste associado ao sobrenome.

Tarcísio foi ministro da Infraestrutura durante o governo Bolsonaro (2019-2022) e elegeu-se governador de São Paulo graças ao apoio do ex-presidente. Ainda assim, enfrenta críticas de bolsonaristas que questionam seu alinhamento pleno com o clã, mesmo com a presença do governador em atos e protestos liderados por Bolsonaro na avenida Paulista.

Entre os governadores mais à direita com potencial candidatura em 2026, Tarcísio é o preferido da maioria dos partidos que controlam o Congresso, incluindo União Brasil, PP, PSD, MDB e Republicanos — o chamado “quinteto da Esplanada”. Há receio de que Bolsonaro opte por um candidato da própria família, como Michelle ou Flávio, mas o indiciamento e a divulgação das mensagens enfraquecem essa hipótese ao evidenciar a vulnerabilidade política do clã. Ainda assim, aliados ressaltam que Bolsonaro continua imprevisível e que muito pode mudar nos próximos 12 meses.

Com a avaliação de que aumentam as chances de um candidato bolsonarista sem o sobrenome Bolsonaro, há quem defenda inclusive a escolha de um vice de fora da família. Entre os nomes cotados, destaca-se o ex-ministro da Casa Civil e senador Ciro Nogueira (PP-PI), que preside o PP e, junto com Antonio Rueda, presidente do União Brasil, organiza a federação partidária que se apresenta como ponta de lança da oposição para 2026, apesar de ter quatro ministros no governo Lula. Unidos, os dois partidos somam 109 deputados federais, mais de 20% da Câmara.

No evento da federação, na última quarta-feira em Brasília, Tarcísio foi a principal estrela. Aliados de Bolsonaro e do governador afirmam que há alinhamento entre os dois, mesmo diante dos ataques de Eduardo registrados nas mensagens da Polícia Federal. O deputado já havia criticado publicamente Tarcísio, acusando-o de se apresentar como “candidato do sistema”.

Em uma das mensagens, Eduardo afirmou: “Agora ele [Tarcísio] quer posar de salvador da pátria. Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer. E pode ter certeza, uma ‘solução Tarcísio’ passa longe de resolver o problema, vai apenas resolver a vida do pessoal da Faria Lima”.

Embora pleiteie a sucessão presidencial do pai, Eduardo dificilmente retornará ao Brasil diante do avanço dos inquéritos no STF.

Nesta quinta, Tarcísio defendeu Bolsonaro e criticou a divulgação das mensagens: “Minha relação com Bolsonaro vai ser como sempre foi: de lealdade, amizade e gratidão com uma pessoa que fez muito pelo Brasil e por mim”.

Para o líder da bancada do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), aliado próximo de Malafaia, o episódio não altera o cenário: “Isso aí é mais do mesmo em relação a Tarcísio e Eduardo. Esse assunto já foi superado. Eles se falaram depois disso. A franqueza e a firmeza são práticas normais na convivência do dia a dia”.

Por Paraíba Maste com Informações da Folha SP (FOLHAPRESS)

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